Por: Deise Navarro
Você consegue se lembrar de uma situação em que foi inexplicavelmente tomado por uma energia intensa que o levou a ter uma atitude totalmente irracional e incompreensível? Passaram na sua cabeça pensamentos do tipo: ”O que foi que eu fiz?” ou “Não sei o que deu em mim”?
Você sabia que essa reação exagerada – ou como os americanos dizem, “overreaction” – está ligada à Função mental Inferior de seu tipo psicológico?
A Função Inferior leva esse nome porque é a função mental menos desenvolvida de nossa dinâmica psicológica. Ela costuma ficar hibernando, mas tende a aparecer abruptamente diante de alguma ameaça, real ou imaginária, que desperte nosso instinto de sobrevivência. Por isso, situações como quando a pessoa se encontra sob pressão intensa, passando por um luto importante ou quando está doente, são propícias para despertar a Função mental Inferior do ser humano.
Embora seja difícil afirmar com certeza qual a Função Inferior de alguém apenas pela observação, é bastante possível identificar quando alguém está agindo sob a influência dela. Como a Função Inferior é dicotômica em relação à Função Principal ou Dominante – que é a função preferida e mais desenvolvida de alguém – quando submetidos a Função Inferior as pessoas tendem a mudar radicalmente de atitude, em geral passando a se comportar de maneira oposta a usual e esperada. Por exemplo, se você costuma ser uma pessoa muito racional, provavelmente ficará excessivamente sensível; se for alguém com grande sensibilidade poderá ficar excessivamente crítico com as outras pessoas ou com si mesma. Acontece que, diante de situações ameaçadoras, todos nós podemos passar a nos comportar de forma irreconhecível e a experimentar sentimentos inexplicáveis – algo parecido com a lembrança que você teve de si mesmo no início do texto.
As funções mentais
Se você já teve contato com a teoria do MBTI vai lembrar que cada tipo psicológico identificado é simbolizado por quatro letras, sendo que as letras centrais dizem respeito às funções psíquicas mais utilizadas pelo indivíduo.
1) Funções Psíquicas de Percepção – relacionam-se à forma como coletamos e processamos informações. Para alguns tipos, isso se dá através da (S) Sensação, quando utilizamos preferencialmente os cinco sentidos; para outros, a forma preferida é a (N) Intuição, quando utilizamos o “sexto sentido” nesse processo.
2) Funções Psíquicas de Julgamento – identificam a forma como tomamos decisão. Pode ser preferencialmente com base no (T) Pensamento, realizando uma análise lógica da situação; ou preferencialmente com base no (F) Sentimento, considerando valores pessoais e coletivos, bem como o impacto de suas decisões sobre as pessoas.
Por exemplo, quando vemos a sigla ESTP, entendemos que se trata de uma pessoa que prefere a Sensação para coletar informações e o Pensamento (Thinking) para tomar decisões. Ou seja, alguém que é ESTP prefere processar informações pelos 5 sentidos e tomar decisões realizando uma análise lógica da situação. Porém, isso não significa que esse mesmo indivíduo não tenha dentro dele a capacidade de usar sua iNtuição e seu sentimento (Feeling). Essas funções estão lá, em alguma parte do psiquismo, mas são as funções menos utilizadas e que, justamente por isso, são menos desenvolvidas. Mas há momentos em que são essas funções que “assumem o controle”.
Independentemente de qual seja o tipo psicológico, todos nós estamos expostos à manifestação da Função Inferior, deixando-nos, naquele momento, à mercê de sua forma de funcionamento mais frágil e irracional. É o que Jung chamava de “Sombra” e que diz respeito do lado sombrio da personalidade humana.
Acontecimentos positivos ou negativos podem trazer à tona a função contrária inferior
[…] a natureza da função inferior é caraterizada pela autonomia; é independente, ela nos acomete, fascina e enleia, a ponto de deixarmos de ser donos de nós mesmos. Jung (1971).
Assim como um músculo destreinado que, depois de estimulado, fica dolorido e passa a ser lembrado a cada movimento a Função Inferior, quando não desenvolvida, toma a frente na consciência humana e provoca dor quando se expressa.
Como posso descobrir qual é minha Função Inferior?
“A função inferior deve ser reconhecida, para que não seja reprimida no inconsciente e venha a irromper no consciente de forma danosa e destrutiva.” (Jung, 1971)
O que torna lidar com a Função Inferior tão complexo é que ela é formada por conteúdos inconscientes do ser humano. Fazendo uma analogia, ela representaria a parte submersa de um “iceberg”, uma parte que para ser acessada depende de um mergulho profundo. Esse mergulho, no caso do iceberg, se dá nas águas do mar; no caso da Função Inferior, depende do autoconhecimento.
Assim como toda porção inconsciente do nosso ser, a Função Inferior precisa ser descoberta e explorada. A boa notícia é que, quando reconhecida, a Função Inferior fica passível de desenvolvimento e pode ficar mais “domesticada”, evitando constrangimentos e sofrimento.
Uma forma muito interessante de identificar qual é a sua e como ela se manifesta em seu tipo psicológico é respondendo ao questionário MBTI. Assim, identifica-se seu tipo psicológico e pode ser criado um bom plano de autodesenvolvimento.
Para maiores informações, fique à vontade para me enviar um e-mail! deise@redeop.com
Deise Navarro é Psicóloga, Orientadora Profissional e de Carreira pela USP e certificada em MBTI.