Escolha errada

Por: Yara Malki

Bem, então você confirma a impressão de ter escolhido o curso errado. Vamos continuar refletindo….

Você percebe-se pensando coisas como:

  • Não estou me identificando com o meu curso.
  • Estou detestando as pessoas de lá!
  • Gostava desta matéria na escola, mas agora eu vejo que fazer uma faculdade nesta área é diferente.
  • Não gosto muito, porém não largo o curso porque não faço a menor ideia sobre outra opção melhor para estudar!
  • Gosto do que estudo mas não me vejo trabalhando com isso!
  • O mercado de trabalho nesta área me desanima.

Claro que, ao escolher uma profissão, ninguém gostaria que desse errado. Mas o que fazer com a grande insatisfação que apareceu?
Primeiro, você precisa saber que se estranhar com a faculdade ou com o curso é mais comum do que se imagina.
É normal uma quebra de expectativas logo no primeiro semestre, especialmente se você entrou num lugar concorrido. Com o tempo, o aluno se adapta e, apesar de o curso não ser o que imaginava, é visto por ele como bom e produtivo. Uma crise no final do curso também é comum, pois a formatura costuma trazer diversos sentimentos (alívio, insegurança com o futuro, nostalgia, euforia) e responsabilidades (sustento, crescimento, autonomia etc.).
O problema está quando a insatisfação não é algo pontual e passageiro mas se prolonga cronicamente ao longo dos semestres. A pessoa percebe um desajuste crescente entre ela e a faculdade ou entre ela e a futura profissão. A maioria dos motivos de desajuste está ligada ao fato de a pessoa não ter pensado melhor antes de entrar no curso. Por exemplo:

  • Pressa para escolher – não se dar o devido tempo de amadurecimento da escolha, por pressão dos pais ou de amigos. Às vezes, o próprio jovem se pressiona, vê o pessoal escolhendo e “parecendo” decidido e apressa-se para escolher também.
  • Escolher totalmente influenciado pela família ou amigos – escolher o que os pais acham melhor ou aquilo que todos os amigos estão escolhendo.
  • Pensar apenas nos possíveis ganhos materiais ou na possível praticidade “Meus pais são arquitetos então arquitetura será mais fácil para mim”.
  • Escolher pensando só no status da profissão.
  • E até o que muitos jovens fazem, às vezes sem perceber, que é escolher “qualquer coisa” no vestibular para ganhar tempo e escolher “mesmo”, depois – é o que muitos fazem ao escolher administração. Em vez de ser uma escolha, torna-se uma forma de adiá-la.

Outros motivos podem ser: não estar gostando do ambiente da faculdade, crise pessoal (término de namoro, depressão, sentir-se perdido na vida) que se confundiu com a questão da faculdade e outros que não caberiam neste espaço.

“E AÍ, O QUE EU FAÇO?”

  • Não é o fim do mundo se você estiver passando por isso. Reconheça que o problema existe e vá a luta! Caso não tenha lido, leia as dicas de reflexão do artigo anterior (Escolhi o curso errado) pois elas vão te ajudar. Se não conseguir sair da crise sozinho, procure ajuda.
  • Não tenha medo de parar um pouco para se escutar e descobrir novos caminhos. Não fique parado esperando que o curso “melhore”, ou pensando que já perdeu sua chance e não tem mais tempo para reparar a situação. Alguns jovens sentem-se culpados e envergonhados diante dos pais e amigos, o que os impede de reconhecer o problema.
  • Uma coisa que você não deve fazer: decidir no impulso parar a faculdade e inscrever-se em outro curso porque, novamente, você estará deixando de pensar melhor, repetindo os erros da primeira escolha.
  • Proporcione a você mesmo uma pausa estratégica e pense que este tempo que você estará se dando compensará os possíveis semestres ou anos futuros estudando ou fazendo algo que não é bem o que você quer.
  • Saiba que nem sempre o resultado da reflexão será a troca de curso. Há muita gente que passa por uma re-escolha profissional e faz as pazes com seu curso. O certo é que nunca é tarde para buscar viver melhor.

 

Yara Malki é Psicóloga, Orientadora Profissional e de Carreira. Mestre em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano e Doutoranda em Psicologia Social, ambos pelo Instituto de Psicologia da USP.