Por: Deise Navarro
1. O profissional de hoje é mais estressado do que o de antigamente?
Sim, porque o mundo do trabalho é mais estressante hoje do que era no passado e um dos principais responsáveis por essa mudança foi desenvolvimento tecnológico.
Um dos reflexos do desenvolvimento tecnológico sobre a subjetividade humana é o nascimento da mentalidade de consumo que faz crer que “ter” é sinônimo de “ser”. Impera a sensação bastante estressante de que estamos perdendo algo melhor o que, muitas vezes, nos impede de experimentar um envolvimento maior com as pessoas e com as situações, pois “precisamos” ficar sempre atentos para o novo que pode surgir a qualquer momento. Em última instância, nos satisfazemos cada vez menos com vivências mais cotidianas (simples) e com as relações pessoais.
Já que parece que podemos, queremos tudo! E, se por um lado somos os consumidores ávidos por velocidade e variedades de produtos e serviços, por outro somos os profissionais que enfrentam outros consumidores, tão ávidos e tão consumistas como nós, quando oferecemos os nossos produtos e serviços.
Como profissionais, sentimos dificuldade de concentração e passamos a encarar pequenos erros como derrotas. As relações de trabalho ficam cada vez mais superficiais e frágeis e o clima organizacional fica prejudicado. Por fim, a crença de que é preciso “ter” para “ser” e a dificuldade em atingir as metas idealizadas, trazem as sensações de fracasso e desesperança que causam muito estresse.
2. Quais os principais sintomas que o estresse provoca nas pessoas?
O estresse provoca sintomas emocionais e físicos nem sempre notados pela pessoa estressada.
Para ajudar numa auto-avaliação, as pessoas devem ficar atentas à sensação de ansiedade que acompanha o estresse. A ansiedade pode aparecer numa intensidade não tão alta, que classifico como uma ansiedade flutuante – a sensação de aperto no peito e irritabilidade permanente, ou em forma de crises ansiosas que provocam sintomas parecidos com os da Síndrome do Pânico. Vale lembrar que distúrbios como esse último citado podem ser desencadeados por meio de experiências nas quais estão envolvidos níveis extremos de estresse.
Como sintomas físicos provocados pelo estresse, temos desde dores leves de cabeça e estômago até gastrites, enxaquecas, tensões musculares, variações na pressão arterial e insônia. Esses sintomas podem vir separadamente ou em conjunto e podem provocar esgotamento e adoecimento.
3. É possível se livrar do Stress e da consequente irritação no trabalho?
Sim, mas há um limite. É importante esclarecer que trabalhar é em si estressante, além de muitas vezes ser chato e até irritante, mas isso não significa que não seja possível ter satisfação por meio do trabalho.
Você precisa ficar atento aos níveis de estresse e irritação que tem enfrentado, ouvir a voz do próprio corpo e do próprio desejo, a fim de não se envolver em situações de total desmotivarão e adoecimento por causa do trabalho. Nesse sentido, o estresse pode servir de bússola pra ajudar a pessoa a olhar pra si mesma e a identificar quais situações a deixam mais tensas. De qualquer forma, é preferível que essa auto-percepção se dê antes de entrar num quadro de estresse mais grave, porque quanto mais intensos forem os sintomas físicos e emocionais que a pessoa estiver enfrentando, mais difícil fica se livrar do estresse, já que, em situações assim, nossos recursos emocionais ficam muito fragilizados e não encontramos forças para reagir.
4. Quais as dicas que você daria para os profissionais que têm se sentido extremamente estressados?
Eu poderia dar todas as dicas válidas que comumente ouvimos de profissionais da área da saúde, tais como a importância de praticar esportes, cuidar da alimentação, desenvolver um controle emocional no trabalho e reservar um tempo para si mesmo, entre outras coisas.
Mas na minha experiência como psicóloga e orientadora profissional tenho percebido que mudar de comportamento não é suficiente para gerar mudanças efetivas. Por isso, eu sugiro que as pessoas, independentemente do grau de estresse que estejam enfrentando, busquem:
1. Se aproximar de si mesmas: busque autoconhecimento para poder identificar o que é realmente importante para você. Você pode fazer isso procurando identificar coisas que te agradam e as que te desagradam e buscar a expressão de ambas em seu meio social, sempre levando em conta o grau de intimidade das relações em questão para encontrar modelos adequados de expressão, ou seja, formas que levem em consideração os limites da realidade envolvida. Um trabalho sério de Orientação Profissional enfatiza a busca de autoconhecimento e ajuda muito no processo de aprendizagem de expressão de sim mesmo.
2. Se aproximar das pessoas: vivemos um momento em que tudo colabora para o distanciamento nas relações interpessoais, os próprios meios de comunicação que prometem mais conexão, acabam nos isolando atrás das telas dos computadores. Estar com pessoas próximas nos ajuda a ter mais contato com sensações importantes como empatia e identificação e também favorece nosso próprio processo de autoconhecimento, pois nos permite ter um acesso mais real da nossa expressão social – daquilo que somos para o outro, fator que nos ajuda a rever atitudes e escolhas. Por fim, estar envolvido em relacionamentos interpessoais revitaliza nosso sentimento de pertencer a um grupo e nos faz sentir mais satisfeitos com a vida de maneira geral.
Deise Navarro é Psicóloga. Orientadora Profissional e de Carreira pela USP. Certificada em MBTI