Por: Cesar Caridade
Quando se fala em planejamento financeiro, um monte de conceitos pode vir à cabeça. Uma definição que eu considero eficiente é a de que planejar-se financeiramente significa manipular seus recursos para fazer com que projetos de qualquer natureza sejam viáveis. Em outras palavras, é trabalhar o quanto entra e o quanto sai para que seus planos de vida que exijam dinheiro possam se tornar realidade – e que tipo de projeto hoje em dia não exige dinheiro?
Um pressuposto básico de qualquer situação financeira sólida e sustentável é o de que os gastos não ultrapassem as receitas. No mundo corporativo, é a base do lucro. Nas finanças pessoais, é a chave para que sobre dinheiro no final do mês para ser investido e que haja uma reserva para ser usada futuramente. Chega a doer de tão óbvio, mas precisa ser dito: como saber se está sobrando dinheiro (e quanto está sobrando) se não há um controle eficiente sobre os gastos? As receitas, para a maioria das pessoas que tem um salário fixo, é razoavelmente fácil de saber. O problema é que os gastos são diluídos e espalhados ao longo dos dias e, portanto, de mais difícil controle.
Vamos supor que você tenha um projeto para os próximos anos: fazer um curso fora do país, largar o emprego para abrir um negócio, fazer uma viagem internacional. Para isso você precisará de dinheiro – de quanto você precisa para por esse projeto para funcionar de forma minimamente segura? Determinar esse valor é um primeiro passo do seu planejamento financeiro – mas é só o primeiro.
Você encontrou o valor: X mil reais. Bom, você não tem esse valor e precisa continuar juntando. Projetos que nos motivam também geram pressa – você quer fazê-lo o quanto antes e, para isso, precisa juntar o máximo possível. Para isso, duas saídas. A primeira é ganhar mais, e sabemos que isso, muitas vezes, é muito difícil no curto prazo. A segunda – e sobre a qual você tem um controle bem maior – é gastar menos.
E aí que entra o problema – quanto você gasta por mês? Em que você gasta? Se você precisar economizar mais, em que tipo de gasto você poderá cortar de forma sustentável – isso é, você poderá efetivamente economizar por vários meses seguidos sem ter a sua qualidade de vida severamente comprometida? Quanto é possível economizar por mês e, assim sendo, em quanto tempo você conseguirá os recursos dos quais precisa para o seu projeto? Outra coisa: se o seu projeto envolve um tempo ganhando pouco (ou até nada), você precisará se manter por alguns meses com suas reservas. Como calcular qual o tamanho dessa reserva se você não sabe bem o quanto gasta por mês?
Se você “acha” que gasta “mais ou menos” tanto, eu afirmo que você não tem um controle sobre seus gastos. É impressionante o que descobrimos quando fazemos um controle preciso de qualquer coisa – despesas, calorias etc. Sem um controle rígido, você pode saber por cima, por exemplo, o quanto gasta para morar (aluguel, condomínio, luz) e com o carro (gasolina, seguro). Ainda assim, vez em quando você precisa levar o carro para arrumar e gasta um bocado; no começo do ano tem IPVA; cada ano que passa seu carro desvaloriza algo entre 5 a 15%, dependendo do modelo e do ano. Será que você está considerando isso tudo no seu custo de vida total? E estamos falando de carro, um gasto grande e sobre o qual, supostamente, temos um controle maior. E o gasto com coisas mais espalhadas, como almoços, supermercados, lazer?
Quando eu falo em “controle”, eu não estou falando em não gastar, em economizar. Estou falando apenas em “ter consciência de”. Quanto e em que gastar é uma decisão pessoal, que envolve uma gama de motivações que não cabe a ninguém indicar a você. O importante é que você tenha
uma noção bastante acurada sobre seus gastos, justamente para ter instrumentos de manipular seus gastos de uma forma que te faça mais feliz e possibilite projetos futuros.
Minha sugestão é que, por um período específico de tempo (digamos, três meses), você faça um controle quase paranóico dos seus gastos. Marque até o cafezinho de três reais no meio da tarde. Eu digo tempo específico porque não acho saudável que um controle tão rígido seja feito eternamente – com o passar do tempo, você ganha uma boa noção e pode fazer acompanhamentos aproximados de gastos pequenos, sem que isso comprometa sua eficiência. Mas por um momento é importante ser muito detalhista. É muito provável que você se surpreenda sobre quanto gasta em coisas que você não imaginava que saíam tão caro e que você descubra que não está economizando o quanto poderia. Uma outra decorrência muito interessante desse controle é você se confrontar com as suas prioridades. Será que esse projeto para o qual você está se preparando é tão importante a ponto de você apertar um pouco o cinto nos seus gastos, ou você ficará anos a fio se enganando, achando que um dia conseguirá concluir esse projeto, quando na verdade você gosta mesmo é de certos confortos cotidianos? Os números tornam muito mais difícil mentir para nós mesmos.
Cesar Caridade é Administrador de Empresas formado pela USP com experiência no Mercado Financeiro.